quinta-feira, 18 de outubro de 2007

“Sem Mim, nada podeis fazer”

Os apóstolos viram o Senhor na sua glória quando Ele se transfigurou no Monte Tabor; mais tarde, porém, no momento da Paixão, fugiram cheios de medo. Tal é a fragilidade do homem. Não há dúvida de que somos deste mundo; mais ainda: desta terra pecadora. Foi por isso que o Senhor disse: “Sem Mim, nada podeis fazer”. E assim é de facto.

Quando a graça está em nós, somos verdadeiramente humildes; então, a nossa inteligência torna-se mais viva, somos obedientes, amáveis, agradáveis a Deus e aos homens. Mas, quando perdemos a graça, secamos como o sarmento cortado à videira. Se alguém não ama seu irmão, por quem o Senhor morreu no meio de grandes sofrimentos, é porque está separado da Videira. Mas aquele que luta contra o pecado será sustentado pelo Senhor, como a vara sustenta o sarmento.

São Siluane (1866-1938), monge ortodoxo

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A Caridade

Quando amamos o mais pobre, fisicamente ou espiritualmente, praticamos a caridade.

A Caridade não é só dar algo que já não nos faz falta. Não é só mandar um contentor de roupa, livros, ou bens alimentares para um país distante, para os “pobrezinhos” do terceiro mundo, quando até nos questionamos o destino que lhe é dado nas alfândegas. Não é atirar a moeda para o cesto do pedinte ou para a mão do arrumador. Isso é dar esmola, é ter (muita) pena, é calar um problema em vez de trabalhar pela solução.

A Caridade é muito mais. É dizer bom dia e perguntar se está tudo bem. É dar a mão sem que o peçam. É servir sem esperar um obrigado (ele surgirá naturalmente). É sorrir para fazer sorrir. É sujar as mãos, como o samaritano, para levantar quem está caído. É descer do pedestal em que os galões (Sr., Dr., Eng., …) nos colocam pois só assim estaremos a um nível que nos permita abraçar o irmão.

Resumindo, como a amizade, a Caridade é uma forma de amar. É amar o que tem uma ou varias necessidades. É olhar para a necessidade como um desafio a superar. É desafiar (como o faço hoje) aqueles que vivem no seu “gueto”, preferindo ignorar o “resto”. Porque não é pobre apenas o que não tem “pão”. Também o é aquele que se acomoda e não lho dá.

Senão vejamos o texto de um e-mail que recebi:
«Um dia, um pai de família rica, grande empresário, levou seu filho para viajar até um lugarejo com o firme propósito de mostrar o quanto as pessoas podem ser pobres. O objetivo era convencer o filho da necessidade de valorizar os bens materiais que possuía, o status, o prestígio social; o pai queria desde cedo passar esses valores para seu herdeiro. Eles ficaram um dia e uma noite numa pequena casa de taipa, de um morador da fazenda de seu primo.
Quando retornavam da viagem, o pai perguntou ao filho:
- E aí, filhão, como foi a viagem para você ?
- Muito boa, papai, respondeu o pequeno.
- Você viu a diferença entre viver com riqueza e viver na pobreza ?
- Sim pai ! Retrucou o filho, pensativamente.
- E o que você aprendeu, com tudo o que viu nesses dias, naquele lugar tão paupérrimo ?
O menino respondeu:
- É pai, eu vi que nós temos só um cachorro em casa, e eles têm quatro. Nós temos uma piscina que alcança o meio do jardim, eles têm um riacho que não tem fim.Nós temos uma varanda coberta e iluminada com lâmpadas fluorescentes e eles têm as estrelas e a lua no céu. Nosso quintal vai até o portão de entrada e eles têm uma floresta inteirinha. Nós temos alguns canários em uma gaiola eles têm todas as aves que a natureza pode oferecer-lhes, soltas !
O filho suspirou e continuou:
- E além do mais papai, observei que eles rezam antes de qualquer refeição, enquanto que nós em casa, sentamos à mesa falando de negócios, dólar, eventos sociais, daí comemos, empurramos o prato e pronto ! No quarto onde fui dormir com o Tonho, passei vergonha, pois não sabia sequer orar, enquanto que ele se ajoelhou e agradeceu a Deus por tudo, inclusive a nossa visita na casa deles. Lá em casa, vamos para o quarto, deitamos, assistimos televisão e dormimos. Outra coisa, papai, dormi na rede do Tonho, enquanto que ele dormiu no chão, pois não havia uma rede para cada um de nós. Na nossa casa colocamos a Maristela, nossa empregada, para dormir naquele quarto onde guardamos entulhos, sem nenhum conforto, apesar de termos camas macias e cheirosas sobrando.
Conforme o garoto falava, seu pai ficava estupefato, sem graça e envergonhado. O filho na sua sábia ingenuidade e no seu brilhante desabafo, levantou-se, abraçou o pai e ainda acrescentou:
- Obrigado papai, por me haver mostrado o quanto nós somos pobres!»

Depois deste texto resta-me continuar a amar todos os pobres, principalmente estes que têm que despertar da sua pobreza, porque também eles têm que amar desta forma tão especial, a CARIDADE.

DS

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Peregrino

Deixa a tua tenda, amigo, e vai.
Há uma viagem arriscada a fazer.
E só tu não tens medo ao deserto.

Deixa a tua família, amigo, e vai.
Há o nome de um povo escrito no céu.
E só tu sabes ler nas estrelas o destino.

Deixa o teu campo, amigo, e vai
Há outra herdade para além deste rio
E só tu aprendeste a semear.


Deixa a tua verdade, amigo, e vai.
Há outra verdade maior a dizer.
E só tu não guardas para ti o sol.

Deixa o teu barco, amigo, e vai.
Há outra pesca para além deste mar.
E só tu és capaz de vencer a noite.

Deixa o teu silêncio, amigo, e vai.
Há uma palavra importante a falar.
E só tu nasceste profeta e peregrino.

Rito Dias

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

novas rotas, novos rumos

Depois de muitos caminhos trilhados pelo sampa, foi alcançada uma primeira meta.

Após ultrapassar esta meta sugem novas rotas, novos rumos. É por estas novas rotas que vou conduzir este novo blog.

Este blog será mais pessoal, sem deixar de vos sugerir outras reflexões como vinha sendo hábito no caminhos de sampa.

Espero que estas novas rotas, que se iníciam no dia em que começo um novo quarto de século, após ter concluído a minha licenciatura no mês passado, venham a ser rumos de felicidade.

Como só sei ser feliz quando tu és feliz, conta comigo, assim como conto contigo, para construir estas novas rotas, novos rumos.

DS